Percursos metodológicos digitais aplicados na educação literária
Palavras-chave:
educação literária, 3.º ciclo do ensino básico, interface digital, pré-leituraResumo
De forma a melhorar e a ajudar os alunos do 3.º ciclo do ensino básico na interpretação dos textos literários no Novo Programa e Metas Curriculares do Português, no domínio da Educação Literária, foi desenvolvida uma interface digital, constituída por dois percursos metodológicos digitais que auxiliam a análise de textos no período de pré-leitura. O primeiro percurso foca-se na escolha do livro opcional de leitura por parte do aluno, por um método de atividades de ligação, centrado na leitura e na conotação sentimental das sinopses e títulos das obras. O segundo percurso foca-se em ajudar na realização de uma atividade de análise de um excerto e consequente título, mediante a criação de nuvens de palavras. Esta interface digital ajuda os alunos na preparação do exame nacional do 9.º ano, como também na interpretação das obras e no incentivo à leitura através de um processo diversificado.
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1. Introdução
Num mundo cada vez mais tecnológico, onde tudo parece estar informatizado, os métodos de ensino na área de Educação, contudo, parecem não ter sido alvo de alterações em grande escala. Os mesmos métodos são usados há já várias décadas, algo que nos é percetível tendo em conta a nossa experiência como alunas. De forma a acompanhar o que se passa no contexto exterior à sala de aula e de modo a motivar os alunos para a leitura e interpretação de grandes obras, alterações teriam de ser feitas.
Desse modo, várias ideias e métodos foram pensados e desenhados para esse propósito, o que resultou na elaboração de uma interface interativa e dinâmica. Por sua vez, esta interface consistiria em dois percursos metodológicos diferentes e independentes.
O primeiro, efetuado inicialmente com a ajuda da ferramenta Genially1, tem como função principal auxiliar os alunos na escolha de um livro para apresentarem na disciplina de Português. Já o segundo, elaborado com a ferramenta WordArt2, consistiria na criação de nuvens de palavras ou expressões mais frequentes e pertinentes retiradas da obra escolhida pelos alunos, de forma a melhorar a interpretação das mesmas.
O presente artigo encontra-se estruturado em quatro secções: Introdução, Fundamentação Teórica, Percursos metodológicos e, finalmente, Conclusão e trabalho futuro.
2. Fundamentação teórica
Esta interface surgiu, na realidade, como forma de escapar ao que se supõe como “normal” no ensino. Surgiu com o intuito de dinamizar e de tornar proativa a maneira como os conteúdos são lecionados. Uma vez que nos inserimos numa era digital, não há a menor dúvida de que os pré-adolescentes estão em constante contacto com a tecnologia, havendo então a necessidade de adaptar a Educação Literária. Portanto, é crucial transformá-la em algo que irá atrair e criar interesse nos alunos, ajudando-os a “participarem de novas experiências” (Mercado, 2002, p. 24) escolares. Além disso, a promoção da leitura permanecerá como o objetivo principal.
No ensino, é fulcral uma aprendizagem interativa que solucione as inúmeras adversidades educacionais para incorporar e estimular os jovens alunos a pensar de uma forma inovadora. Para além disso, é importante relembrar que, por vezes, os professores revelam “algumas dúvidas e inseguranças” (Oliveira & Dalmas, 2002, p. 3) quanto ao uso da tecnologia na aprendizagem em sala de aula, o que, segundo Costa (2007), contribuiu para que tenham introduzido apenas pequenas mudanças na sua prática pedagógica. No entanto, os professores deverão ter em conta que a tecnologia fomenta e renova o seu papel enquanto educadores, podendo ainda ajudar os alunos a atingir o seu “potencial cognitivo” (Costa, 2007, p. 9).
Por fim, não é necessário que o ensino se desenvolva em torno das novas tecnologias, mas que se sustente nestas, de forma a “fornecer maiores valores à educação e à formação de professores e alunos” (Oliveira & Dalmas, 2002, p. 7), e a “promover ganhos ao nível académico e social, do desenvolvimento de um sentido de comunidade” (Bahia & Trindade, 2010, p. 96).
3. Percursos metodológicos
Com a elaboração do 1.º percurso, pretendia-se chamar a atenção dos alunos do 3.º ciclo para a importância da sinopse e do título e incentivá-los à leitura. Para tal, foi criada uma interface digitalcom quatro atividadesem que os utilizadores, ao completá-las, pudessem escolher, de entre as opções de uma lista dada pelos professores, um livro mais direcionado à escolha pessoal do aluno, em vez de escolherem um livro pela sua popularidade (positiva ou negativa).
A interfaceinicial (fase de teste) foi criada na plataforma Genially, com um layout mais simples, e de modo a que, ao ser testada pelos alunos da turma 9.º A do 3.º ciclo da Escola Básica de Vila Verde, pudesse ser mais facilmente editada de acordo com as preferências dos alunos. Após a fase de teste, a interface final será elaborada numa página HTML.
Na primeira atividade, os alunos devem ouvir (por meio de um áudio3 disponibilizado pelos docentes) e acompanhar a leitura das sinopses apresentadas (vd. Figure 1).
De seguida, é-lhes pedido que conectem as sinopses uma a uma com um dos dois losangos centrais, decidindo se estas têm uma conotação positiva ou negativa, a fim de compreenderem a importância da sinopse (vd. Figure 2).
Após a conclusão da primeira atividade, os alunos são redirecionados para a segunda atividade, de cariz semelhante, mas centrada na importância do título do livro e na sua positividade ou negatividade, de forma a que consigam melhorar a sua capacidade de análise literária e o seu desenvolvimento cerebral. Para além disso, cada título será complementado com um pequeno texto com uma curiosidade sobre os autores, estimulando e encorajando a leitura por interesse próprio (vd. Figure 3). Os alunos podem interiorizar as suas opiniões e preferências de leitura durante a realização da atividade de um modo mais dinâmico.
De seguida, estão organizadas em duas colunas as sinopses e os títulos, onde a tarefa dos estudantes consiste em decidir qual é o título mais adequado a cada sinopse. (vd. Figure 4.)
Apesar da sua simplicidade, esta tarefa permite verificar se o aluno percebeu a sinopse e se consegue escolher o título mais apropriado, demonstrando o trabalho de interpretação e reflexão por parte do aluno sobre a obra. Este tipo de atividade, comumente realizado em Exames Nacionais, será explorado no 2.º percurso apresentado neste artigo.
Por último, pedimos aos estudantes que escolhessem o livro que mais lhes interessava através do título. A motivação desta atividade prende-se com a tendência dos jovens em escolher o livro que mais lhes agrada através da capa (se esta é bonita, colorida, etc.). Pretendia-se que, após a conclusão deste conjunto de atividades, os jovens fossem capazes de eleger o livro mais adequado para si por meio das sinopses e não pelas capas dos livros (vd. Figure 5).
- 1.º Percurso metodológico : auxílio n a escolha do livro opcional de leitura;
- 2.º Percurso metodológico: criação de nuvens de palavras como atividade de interpretação.
Um recurso que nem sempre é tido como essencial para obter a informação relevante através dos substantivos é o WordArt.Trata-se de uma ferramenta gratuita que permite criar nuvens de palavras e que se destaca dos demais por ser de fácil utilização e ter um maior catálogo de figuras, possibilitando uma maior organização e personalização. Umas das suas qualidades é o facto de ser uma plataforma interativa que permite ao seu utilizador procurar os substantivos, verificando quais os que apresentam maior ênfase através do seu tamanho. Esta é, sem dúvida, uma ferramenta que pode ser utilizada pelos alunos devido à sua simples interface,não apenas para os objetivos aqui sugeridos, mas também para outras finalidades4.
De seguida, são apresentados os passos para realizar uma nuvem de palavras utilizando o WordArt5. Após entrar no website foi possível ver três alternativas (Create, Sign Up e Log In), sendo a escolhida Create, dado que não havia uma conta associada. De seguida, foi selecionada a opção Import, colada a sinopse do livro escolhido e finalmente pressionada a opção Import Words. É de frisar que aqui foi necessário fazer uma limpeza(eliminação de certos pronomes, determinantes e verbos que não eram pertinentes à interpretação do excerto), ou seja, selecionar a(s) palavra(s) que se pretendia excluir e pressionar a opção Remove. É igualmente possível introduzir os substantivos ou palavras-chave manualmente na coluna filter (type in a new word), e, caso alguma palavra apareça mais que uma vez, é possível colocar em Size o número de vezes que surge na sinopse, de forma a realçar a sua importância na nuvem. Depois de clicar em Shapes foi escolhida uma figura para apresentar a informação, sendo permitido fazer o upload de uma figura à escolha do utilizador em Add image. Com o intuito de visualizar melhor a informação, foi selecionada a opção Fonts, para escolher o tipo de letra, a opção Layout para mostrar a posição das palavras e, finalmente, a opção Style para decidir a cor das mesmas. Com o intuito de ver a nuvem criada, recorreu-se à opção Visualize. Uma vez alcançado o resultado desejado, é dada a possibilidade de fazer Download (canto superior esquerdo)., Não tendo conta associada, apenas são disponibilizados os formatos Standard PNG e Standard JPEG. Ao analisar o WordArt criado, é possível constatar quais são as palavras-chave obtidas e, desta forma, os utilizadores podem analisar a sinopse de um modo divertido e relativamente simples, interagindo com o mundo digital e, em particular, com as tecnologias educativas.
A fim de melhor interpretar as nuvens de palavras, era aconselhável, numa primeira fase, ler a sinopse para assimilar a ideia central e, de seguida, criar a nuvem de modo a obter um melhor entendimento da história. O que se pretendia era que, com os resultados obtidos, os utilizadores se questionassem, mediante as palavras adquiridas, acerca da temática da história a fim de produzir um pequeno texto de 100 palavras e atribuir a esse texto o título mais indicado, consoante a sua interpretação.
Abaixo encontra-se um exemplo do 2.º percurso, realizado por um aluno do 3.º ciclo. A sinopse lida foi a de um livro de Luís Sepúlveda, “História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar”. O aluno criou uma nuvem de palavras (vd. Figure 6) e um texto de aproximadamente 100 palavras, com a sua proposta de título.
Adicionalmente, esta atividade permitiu aos alunos colocar em prática as suas competências de escrita criativa, o que pode ser considerado como um objetivo suplementar do 2.º percurso.
4. Conclusão e trabalho futuro
Tal como referido na Introdução, inúmeras mudanças precisarão de ser feitas de modo a motivar os alunos para a leitura e interpretação de obras literárias, sendo esta interface um bom ponto de partida para atingir este propósito.
No 1.º percurso metodológico queremos que os jovens sejam capazes de eleger o livro que a eles mais se adequa por meio das sinopses e do título, verificando também a conotação sentimental destes. Apesar de se focar no mesmo aspeto, o 2.º percurso metodológico utiliza outra ferramenta educativa (WordArt) para o realizar, de modo a obter as palavras-chave e focando-se também no desenvolvimento crítico de análise de excertos, crucial para o sucesso dos alunos na disciplina de Português.
De um modo geral, concluímos que estes tipos de recursos digitais são necessários para o nosso dia-a-dia, incitando o desenvolvimento criativo dos alunos e dando-lhes a conhecer o novo mundo digital. A modernização do ensino – conforme implementada na Finlândia, que, segundo o PT Jornal (“Este é o melhor sistema de ensino do mundo”, 2016), é conhecida por ter o melhor sistema de ensino do mundo – demonstra ser essencial para perceber que os alunos não se devem só focar no método tradicional, mas sim em serem capazes de um dia se tornarem mais autónomos nos métodos de ensino (Tecedeiro, 2018).
Recomenda-se para trabalhos futuros a aplicação do 2.º percurso metodológico da interface para o ensino secundário, como também a criação e utilização de outras ferramentas educativas a fim de auxiliar na análise de obras literárias, demonstrando que há formas mais estimulantes e agradáveis de o fazer.
Notas
1 - Genially é uma plataforma gratuita que permite a criação de recursos interativos, a criação de apresentações e dossiers, entre outros. Disponível em https://www.genial.ly/.
2 - Disponível em:https://wordart.com/.
3 - A compilação de áudios será realizada numa fase de projeto futura.
4 - Sendo o WordArt gratuito, não é obrigatória a criação de uma conta, no entanto, se o preferir, a criação é também livre de custos. O WordArt disponibiliza vários tutoriais para os utilizadores que estão a visitar pela primeira vez.
5 - Orientações passo a passo do WordArt com base nas apresentações de Selak (2011) e Smith (2015) sobre a ferramenta Tagul.
Referências
Bahia, S. & Trindade, J.(2010).O potencial das tecnologias educativas na promoção da inclusão: três exemplos. Educação, Formação & Tecnologias, 3(1), 96-110. https://eft.educom.pt/index.php/eft/article/view/128
Costa, F. (2007). Tecnologias Educativas: Análise das dissertações de Mestrado realizadas em Portugal. Sísifo – Revista de Ciências da Educação, 7-24. http://hdl.handle.net/10451/7006
Este é o melhor sistema de ensino do mundo e nós fazemos tudo ao contrário. (2016, 11 de abril). Consultado em https://ptjornal.com/melhor-sistema-ensino-do-mundo-nos-fazemos-tudo-ao-contrario-67367
Indalécio, A. B. (2016, 25 de abril). Genially: crie recursos educativos e interativos fantásticos em poucos cliques! Mundo Nativo Digital. https://mundonativodigital.com/2016/04/25/genially-crie-recursos-educativos-e-interativos-fantasticos-em-poucos-cliques/
Mercado, L. P. L. (2002). Novas tecnologias na educação: reflexões sobre a prática. UFAL.
Oliveira, M. & Dalmas, J. C. (2002). Tecnologia, Inovação e Educação: Uma Análise Reflexiva. Akrópolis - Revista de Ciências Humanas da UNIPAR, (10)1, https://revistas.unipar.br/index.php/akropolis/article/view/1852/1616
Selak, B. (2011, 20 de outubro). Tagul. [PowerPoint Slides]. SlideShare. https://www.slideshare.net/billselak/tagul-9799582
Smith, B. (2015, 10, de outubro). Tagul - Cool Tool. [PowerPoint Slides]. SlideShare. https://www.slideshare.net/blsmit11/tagul-cool-tool
Tecedeiro, H. (2018, 22 de março). O segredo da Finlândia é todas as escolas serem igualmente boas. Diário de Notícias. https://www.dn.pt/mundo/o-segredo-da-finlandia-e-todas-as-escolas-serem-igualmente-boas-9204954.html
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